quinta-feira, abril 10, 2008

Ah, o Pandoro!

Bom, após um período mais que sabático, resolvi dar às caras neste blog tão querido. Às vezes realmente precisamos nos afastar de lugares dos quais gostamos. São as peças que a vida nos prega.
Neste longo período continuei a encontrar com as amigas que conheci aqui, apesar de não ser com a intensidade merecida. Também não deixei de ler os outros blogs e, muito menos deixei de cozinhar.
É bom voltar num momento tão especial: a gravidez da partner!
Depois, não tinha mais cabimento ficar tão distante quando , simultaneamente, uma das bandas que mais gosto : o Portishead – que há 10 anos não lançava um disco – resolveu alegrar os fãs e o meu bar favorito no mundo todo: o Pandoro reabriu após um longo hiato.
Receber um telefonema me avisando da reabertura me encheu de felicidade.
Freqüento o Pandoro desde criança; meu avô sempre me levava para comer pastel ou tomar “sorvete quente”. Ele gostava da mesa redonda perto do balcão do genial Guilhermino, pedia umas Cerpas bem geladas, um balde de gelo para colocá-las e uma porção mista de pastéis de carne, palmito e queijo.
Ficávamos conversando da vida, e como eu era feliz por compartilhar este momento com ele. Eu o acompanhava tomando um “caju amigo fake”, ou seja, sem álcool.
Durante muitos anos fizemos isso.
Lá vivi momentos memoráveis. Lembro do Luís, do Salles (que virou maitre do finado Esplanada Grill), do Santana.
Lembro de uma vez, já adolescente, quando uma amiga e eu fomos a uma festa que era um mico total e decidimos ir embora, detalhe estávamos sem dinheiro. Andamos até o Pandoro e lá o Luís nos colocou num taxi e mandou que não nos preocupássemos. Lembro de levar meu convite de casamento para o mesmo Luís e ele se emocionar, pois me conheceu pequena. Lembro de chorar minha separação por lá também.
Minha família toda é freqüentadora de lá e eu iniciei minha filha quando precisei fazer fisioterapia na clínica que fica ao lado.
Ela é louca pelo pastel de queijo, já eu prefiro o de palmito e o meu pai o de carne. Lá, o Santana a pega pela mão e vai até a banca de jornal em frente comprar revistas para ela. Lá, eles me trazem pepinos e salsão aperitivos. Lá, nunca falta o salsão no Bloody Mary (creiam-me vários bares de São Paulo servem Bloody Mary sem salsão). Lá, eles já sabem que a Sabrina, heresia das brabas, gosta de comer o pastel com catchup.
Lá, você pode chegar vestindo Black Tie ou recém saído do clube. Lá, você sempre vai encontrar algum amigo/a.
Lá, ninguém vai lhe importunar se ficar horas tomando uma água e lendo o jornal. Aliás, lá quando uma revista se esgota na banca sempre tem um freqüentador disposto a lhe emprestar a dele.
Lá, os garçons sabem do jeito que eu gosto do meu whisky e fica exatamente igual ao que preparo em casa.
Lá, todos os sábados um freqüentador chegava com seu charuto e sentava bem perto do janelão, pedia um vinho e ficava horas até o charuto terminar.
Lá, você pode comer um incrível sanduíche de bife à milanesa.
E é para lá que eu irei na semana que vem com minha filha, e juntas tomaremos um suco e comeremos, eu um pastel de palmito e ela um de queijo. Então ela me contará o que aprendeu na escola e eu viverei um daqueles momentos de felicidade plena.
*Algumas partes deste texto teriam que ser escritas no tempo pretérito. Não o fiz, pois estou esperançosa de que apesar da mudança de dono e da nova decoração o espírito do Pandoro continue o mesmo.

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